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22 de agosto de 2011

Síntese do Texto: O Pensamento Educacional Antes de Marx

ENGUITA, Mariano. O pensamento educacional antes de Marx. In: Trabalho, Escola e Ideologia. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1993.

O texto “O pensamento educacional antes de Marx”, traz algumas críticas frente a sete constantes na educação:

1) Idealismo educacional

O idealismo é visto como algo inerente a educação, puramente intelectual, oposto ao trabalho. Aliás, o trabalho manual era destinado a quem não pertencia a sociedade, aos excluídos. Quem trabalhava, principalmente com as mãos, eram vistos como súditos, fiéis a Deus, mais a diante, fiéis as leis, passando de súditos a cidadãos. Assim a educação consistia em mera transmissão de idéias. Pode-se dizer que, até hoje a educação está desassociada ao trabalho e, em alguns aspectos, desvinculada até das necessidades reais do dia a dia. Prova disso, por exemplo, é o currículo, onde a matemática poderia deixar de ser o “bicho papão”, onde se mostrasse a importância da sua utilização nas finanças. Outro exemplo é a própria filosofia, impregnada de uma educação para o pensar, que foi deixada de lado por muito tempo, e que de certa forma ainda está, pois não se cogita esta disciplina para crianças.

2) Identificação entre educação e escola

Na Grécia antiga, a educação era vinculada somente a figura do educador, que determinava seu peso na sociedade, ou seja, qualquer educação dada fora da escola não tinha valor algum. Aliás, a única educação aceita fora dela, era a que acontecia no seio familiar. Assim, os educadores foram se multiplicando, seu objeto de trabalho eram as ideias e seu método, apenas a transmissão. Porém, mais adiante, a educação ganhou amplitude e passou a ter outro objetivo, baseada na formação de homens melhores. A perspectiva, era de uma educação que durasse a vida toda e que abarcasse todos os aspectos da vida do homem. Desta forma, a escola faria apenas parte de um determinado momento da vida de cada sujeito, envolvendo questões cívicas, sociais e de cidadania. Em relação a isso cita-se: Quando a Diógenes Laércio perguntam-lhe qual é a melhor educação para o seu filho, respondeu: “que o façam cidadão de um povo com boas instituições.” (p.24)

3) (A) Histórica

Refere-se a uma educação natural, no qual isolar-se da sociedade propicia que o indivíduo se conheça melhor. Para ilustrar esta educação, Rousseau descreve em Emílio um exemplo disto. Mostra um menino que cresceu em meio a valores da natureza mas que choca-se ao deparar-se com a sociedade. Já Kant, contrário a educação natural, falava que o homem precisava desenvolver seus potenciais, inclusive a moralidade, que era capaz de barrar o mal, cuja origem estava em não submeter a natureza a regras.

4)Imanentismo

Refere-se que tudo aquilo que o educando pode vir a ser, já está dentro dele, como: humanidade, razão, saber, verdade, bem ou conhecimento de Deus. Sócrates, dizia que tudo deveria sair de dentro de seu próprio interior, deveria ser exortado, indagado. Nesta mesma linha de pensamento, Santo Agostinho, falava do “mestre interior” e Tomás de Aquino falava que o mestre não transmite conhecimento, mas ajuda o aluno ou discípulo a verbalizar o que está dentro de si. Comenio, tão imanentista quanto St° Agostinho, afirmava: “O homem é um compêndio do universo que encerra em si tudo o que aparece espargido pelo mundo, um microcosmos, um mundo em miniatura que trás em si não somente os princípios, mas o desejo de aprender e trabalhar.”(p.31)

5) Classista/Universalista

A reforma religiosa protestante faz a “escola universal e igualitária”. Coloca-se entre aspas porque este lema só é percebido assim por poucos na época, na verdade, somente porque tem interesse que ela fosse vista assim, pois as escolas se diferenciavam entre ricos e pobres. As mulheres não aristocratas, tinham o “direito” de frequentar a escola, mas só pela metade do tempo que os homens freqüentavam, isso porque, na outra metade do tempo, elas dedicavam-se aos trabalhos manuais. Aí então mais uma diferença, a de gênero. Voltaire colocava que educar as massas era um erro, pois todos os que precisavam de criados não precisavam que eles fossem pensantes! Esta ideia é bastante contemporânea quando observa-se as ações políticas da atualidade, afinal uma nação pensante serve para que? Ainda com esta concepção um tanto atual, surge Kant, que quer uma escola pública sim, mas não proveniente de obras governamentais, pois segundo ele, o governo só age de acordo com seus próprios interesses, como é até hoje. Kant diz que a solução para isso seria o fato da educação ser intermediada por interesses particulares.

6) Instrumento de poder da minoria para a maioria

Referente aos homens nobres destinados para o poder. Locke, não se importava com a educação do povo, apenas com a da burguesia. Para ele, o objetivo da educação é “tornar um homem hábil e útil à sua pátria.” (p.39) E como mencionado anteriormente, Voltaire que também pensa apenas na educação dos nobres, dizia que “Tudo está perdido quando o povo está em discussão.” (p.39) Já Marx denunciava qualquer tipo de exploração de homens, mulheres e crianças.

7) Exclusão ou postergação a que a mulher se viu submetida

Na antiguidade, o lugar da mulher era o gineceu. No cristianismo ela foi deixada de lado. No período feudal, bastava cuidar do lar e ser digna de piedade cristã. Na modernidade, somente no século XIX e XX ela passou a ter seus direitos reconhecidos.

Comenio trazia a mulher a educação de igualdade com o homem, porém para o ensino secundário, pois a ela cabia o ensino de Deus e a salvação da família. Rousseau já questionava a educação baseada na igualdade para ambos os sexos, pois eles eram essencialmente diferentes. Kant dizia que a educação da mulher bastava ser algo superficial. Condorcet falava em eliminar este preconceito.

Pode-se dizer, que durante toda a história a mulher sempre foi excluída ou no máximo pensada para os afazeres do lar. Somente nos últimos séculos, com muita luta o panorama começou a mudar.

Concluo com uma frase de Hegel que diz: “A filosofia é seu tempo expressado em pensamentos.”(p.44) Isso porque, a pedagogia é um reflexo parcial de uma parcela da realidade, enquanto a filosofia é o reflexo total de uma totalidade real.

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