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11 de outubro de 2011

Comentário do texto: SAVIANI, Dermeval. "A trajetória da pedagogia católica no Brasil: da hegemonia à renovação pela mediação da resistência ativa."

O texto de Saviani, além de nos trazer fatos históricos, nos traz a trajetória do catolicismo dentro das escolas no Brasil do século XIX e XX. Preferi realizar a síntese/comentário seguindo os tópicos que o próprio autor utilizou em sua escrita. Isso porque, tais tópicos revelam diferentes marcos fixados pelo movimento da igreja em busca de sustentação e renovação de seus ideias, através de seu sistema educacional. Sendo assim, contextualizando o caminho percorrido pela educação católica através da história, segue abaixo:

1. Hegemonia plena da pedagogia católica ano Brasil

No Brasil colônia, realizou-se a primeira missa, celebrada pelo frei Henrique Coimbra. Em seguida, os jesuítas já implantaram seus colégios que eram sustentados por um décimo da receita obtida pela coroa portuguesa. A pedagogia católica, mesmo após a expulsão dos jesuítas por Pombal, não havia sido abalada, até porque, a substituição da orientação jesuítica se deu não só pelas ideias laicas, mas por uma nova orientação também católica, onde destacava-se os padres oratorianos. Tanto é que o catolicismo foi proclamado religião oficial durante o padroado.

2. Crise de hegemonia e resistência ativa

O avanço das ideias laicas associado ao regime do padroado gerou uma crise hegemônica. Devido ao liberalismo, o estado não seguia mais as ordens da igreja, acarretando o fim do padroado, consequentemente, se eliminava o ensino religioso das escolas públicas.
Isso foi uma derrota para a igreja, que em seguida se mobilizou em forma de resistência ativa através de duas forças de atuação para:
- restabelecimento do ensino religioso nas escolas públicas
- difusão de seu ideário pedagógico através da impressão em livros, jornais e revistas e principalmente em livros didáticos tanto para alunos quanto para professores em formação no curso normal
A partir de 1920, a resistência ganhou mais força. Devido a tamanha laicização, a igreja inclusive criou um partido político para tentar retomar seu poder. E lançou a Revista A Ordem, como veículo difusor de suas ideias.
Com a criação do Centro Dom Vital, instituiu-se um local que servia para reunir a elite intelectual católica, capaz de mobilizar uma legião de leigos, principalmente de jovens e adultos casados.
Organizaram a Liga Eleitoral Católica e conseguiram incluir na constituição o “programa mínimo” que traduzia seus interesses, como a inclusão do ensino religioso nas escolas.
Criaram a Associação dos Professores Católicos.
Mais adiante, Amoroso Lima (intelectual católico do centro Dom Vital) escreve o livro Debates Pedagógicos, e fala do surgimento da primeira ameaça ao domínio católico, que era o modernismo agnóstico. Em seguida escreve sobre três aspectos da pedagogia.
a) ideal pedagógico: orienta todo o trabalho educativo
b) realidade pedagógica: se refere ao objeto da educação, ou seja a criança
c) método pedagógico: meios pelos quais se aplica o primeiro e o segundo
Partindo daí, Lima diz que o problema da educação em geral é a falta de ideal.
Fala também da pedagogia integral que subdivide-se em vários pontos:
1. Cronológico
• Três momentos formativos: educação, instrução e cultura
• Infundir hábitos, ministrar conhecimentos, elevar a personalidade
2. Ontológico
• Físico – para o poder
• Intelectual – para o conhecer
• Moral – para o dever

3. Renovação da pedagogia católica

A pedagogia católica passou a rever alguns aspectos e reconheceu vários postulados na Escola Nova. Alguns intelectuais católicos, como Everardo Backheuser, integrantes da renovação pedagógica atuaram fortemente com esse pensamento, destacando-se ao escrever obras como o Manual da Pedagogia Moderna.
Mas a medida que esse movimento crescia, surgia também a renovação pedagógica católica. Havia um equilibro no poder entre católicos e liberais (1930 - 1945), sendo que em 45 obteve-se a predominância dos pioneiros escolanovistas.
Em 1947 se constituía uma comissão no governo, representada por católicos, Anísio Teixeira e Fernando de Azevedo, entre outros, representando a escola nova, para pensar as diretrizes para educação.
Mas a influência da escola nova no catolicismo foi tamanha que em pouco tempo, através de cursos houve uma renovação e surgiu a “escola nova católica”.
Então iniciou-se, por volta de 1955, a preparação dos professores católicos através de uma formação dada pelo padre Pierre Faure, que preparava os professores através das Semanas Pedagógicas. Seu método consistia em apresentar um apanhado das ideias pedagógicas de Dalton (americana), Montessori (italiana) e Lubienska (método pedagógico relacionado com a bíblia).
Essa foi fórmula pra garantir sua sobrevivência, “assimilar a renovação metodológica sem abrir mão da doutrina”. (p.9)
No início dos anos 60, intensificou-se uma mobilização popular que partilhava das ideias da pedagogia nova, embora fosse criado pela igreja, fala-se aqui do Movimento Paulo Freire. Tratava-se de uma educação popular voltada principalmente para a alfabetização de adultos. Na época, muitas freiras deixaram os colégios onde atuavam e iam trabalhar nas periferia das cidades ou no meio rural, para educar e evangelizar o povo oprimido pelo capitalismo.
É notável o esforço de renovação pelo qual a igreja passou. Percebeu suas entraves, seus tradicionalismo educacional, e a partir do reconhecimento das novas ideias optou por reformular-se para continuar no que lhe restava de “poder”. Pode-se dizer então, que com muita articulação, a igreja conseguiu renovar-se, atualizar-se sem perder sua essência.

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